
O
herói da vila
__ Vejam,
uma cobra!
__ Ora,
ora, quem tem medo de uma cobrinha de nada
como essa? _ perguntou Clóvis com
ares de superioridade, enquanto pulava no
gramado atrás do pequeno réptil
que fugia assustado.
Com um pedaço
de pau liquidou a cobrinha e voltou para
perto dos companheiros, gabando-se de sua
valentia.
__ Eu não
estava com medo __ explicou Marina. __ É
que simplesmente não gosto de cobras,
mas também não teria coragem
de maltratar uma tão pequena como
essa. Isso não!
As crianças
prosseguiram em suas brincadeiras naquele
belo dia de verão. Aproveitando a
sombra de um grande figueira, sentaram-se
na relva para descansar um pouco.
Clóvis
voltou ao assunto das cobras:
__Você
tem medo de cobras, Roberto?
__De cobrinhas
não; apenas não gosto delas.
Mas se forem cobras grandes e venenosas,
aí sim, acho que todos devemos ter
medo delas, pois são perigosas.
__ Eu não
tenho medo de nada! __ Replicou Clóvis.
__ Ontem,
papai salvou um colega de se afogar e depois
foi muito aplaudido pelo povo da cidade.
:Eu não tenho medo de água.
Poderia fazer o mesmo. E também posso
até enfrentar animais selvagens.
Quando crescer gostaria de ir para a África
caçar leões.
As meninas
o contemplavam com grande admiração
e ouviam atentas sobre todas as coisas que
ele pretendia fazer. Roberto, porém,
era um menino sossegado. Não tinha
muitos planos maravilhosos para o futuro
e por isso falava pouco.
__ Você
também não gostaria de sr
caçador, Roberto? __ Inquiriu Clóvis.
__ Não!
Tenho muito medo de animais selvagens e
sei que é difícil de vencê-los.
__Ih! Tenho
pena de covardes __ zombou Clóvis.
__Quando crescer, quero caçar ursos,
leões, tigres...
__ Poi eu
quero ficar aqui no Brasil __ respondeu
Roberto calmamente. E mudando de assunto
propôs:
__ Que tal
a gente descer até o riacho para
brincar por lá?
Todos acharam
a idéia muito boa. Divertiram-se
a valer vendo fugir assustados os lambaris
enquanto agitavam as águas com os
pés.
O sol baixava
no horizonte enquanto as crianças
começaram a subir por um pequeno
trilho que partia do riacho, em direção
à vila onde moravam. Estavam caminhando
à beira da barroca para olhar o riachinho
que estava ficando cada vez mais distante,
lá embaixo.
Depois,
puseram-se a atravessar um capinzal, rindo,
brincando, e correndo atrás das borboletas.
Era um grupo feliz.
Um ruído
surdo que ouviram atrás deles, fez
com que todos ficassem gelados de medo:
um touro, de aspecto feroz, vinha correndo
em sua direção.
Os rugidos
do animal deixaram as crianças aterrorizadas.
Que poderiam fazer?
Quase sem
pensar, Roberto tirou o lenço vermelho
da cabeça de Neli e gritou para os
colegas:
__ Corram
para a cerca. Salvem-se
Clóvis,
pálido como um defunto, foi o primeiro
a correr, seguido de perto pelas três
meninas, enquanto Roberto corria em direção
ao barranco do riacho, agitando o lenço
vermelho e gritando o mais alto possível
para chamar a atenção do touro.
O furioso
animal precipitou-se atrás de Roberto
em desabalada carreira. Percebendo que não
havia tempo a perder, o menino jogou o lenço
vermelho sobre um arbusto e atirou-se pelo
barranco abaixo.
Felizmente,
algumas moitas de capim amorteceram um pouco
a sua queda. Assim mesmo, Roberto ficou
bastante ferido.
A água
fria que começou a molhar seu corpo
fez com que ele despertasse e tomasse consciência
do perigo. O touro poderia descer o barranco
e atacá-lo novamente. Os colegas
estavam a salvo, do outro lado da cerca.
Tentou se levantar mas não conseguiu.
Sentia dores horríveis.Com grande
esforço, conseguiu arrastar-se até
o outro lado do riacho, onde também
havia uma cerca, e se pôs a salvo.
Mas não podia caminhar. Os pés
estavam ficando cada vez mais inchados.
"Acho
que vou desmaiar", pensou. Tudo em
volta parecia estar girando...
__ Roberto
Nunes! É você que está
aqui, meu rapaz?
Era o fazendeiro
que havia presenciado tudo de longe e viera
em socorro das crianças.
O Sr. Brito
fez sinal para um automóvel que ia
passando na estrada e pediu ao motorista
que levasse Roberto para o hospital, enquanto
ele avisaria seus pai.
Era uma
fratura na perna direita e ferimentos generalizados
por todo o corpo, mas nada de muito grave,
garantiu o médico.
Roberto
ainda estava meio atordoado, quando percebeu
a presença da mamãe e do papai
em seu quarto no hospital. Eles disseram
que estavam orgulhosos do filho.
Orgulhosos?
Sim ele havia ouvido muito bem. Mas por
que orgulhosos?... Sua mente estava amortecida
pelo anestésico. Em seguida caiu
num profundo sono.
Roberto
despertou agitado. Onde estava? O pé
lhe parecia pesado... Sim, estava no hospital,
agora se lembrava.
Uma enfermeira
entro no quarto carregando um ramalhete
de flores, uma caixa de bombons e uma cesta
de frutas.
__ Está
acordado, Roberto? Ótimo! Você
dormiu dois dias seguidos. Agora está
muito bem. Veja o que seus amigos lhe mandaram.
O garoto
arregalou os olhos:
__ Para
mim? Só por eu estar doente?
__ Porque
você é um herói! o Sr.
Brito viu tudo de longe e disse que você
salvou a vida daquelas crianças.
Ele arregalou
os olhos ainda mais. Flores, bombons, frutas,
brinquedos... Ainda não entendia
bem o que estava acontecendo. A enfermeira
abriu um jornal e o mostrou a Roberto. Na
primeira página, em letra grandes,
estava escrito: "Roberto Nunes, o Herói
da da Vila" e logo abaixo, em letras
um pouco menores: "Por um ato heróico,
salva a vida de seus companheiros."
__ Eu sempre
pensei que fosse um covarde __ disse sorrindo
levemente. __ Em todo o caso estou contente
porque os outros não se machucaram.
Autor:
Livro o Gato que
salvou o trem
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