
O
Bambu e o vento
Certo
homem, um fazendeiro muito rico, estava em seu
luxuoso quarto de enormes janelas, de onde através
de uma delas podia contemplar um vasto bambuzal
e confabulava consigo mesmo, ao perceber que um
vento impetuoso, naquela tarde, sacudia os bambus
de um lado para o outro, fazendo-os, como num
balé fantástico, tocar o solo várias
vezes. Dizia ele em seus pensamentos que apesar
da resistência daqueles enormes bambus,
ele era mais forte, pois quando adquiriu aquelas
terras, mandou derrubar os arvoredos em redor,
e muitas árvores muito mais fortes que
as do bambuzal.
Esse
bambuzal que podia observar de sua extraordinária
mansão, estava em terras vizinhas, mas
isso não o impedia de utilizar aqueles
bambus para a sua plantação de hortaliças.
Mas quando o pequeno agricultor, proprietário
daquelas terras resolveu plantar próximo
das terras do rico fazendeiro, a reação
não foi nada cordial, não foi a
mesma do pequeno agricultor que não se
incomodava das freqüentes retiradas de bambus
em sua propriedade.
O
fazendeiro rico se voltou contra o pequeno agricultor,
e ainda numa atitude de egocentrismo, bateu no
peito e bradou:
-Tudo
isso é meu, eu sou o homem mais rico dessa
província, inclusive tenho poder para destruir
tudo que está ao redor das minhas terras!
Ele então, que não cabia em si de
tanto egoísmo, arquitetou um plano cruel.
Planejou arrancar os bambus do terreno vizinho
e plantá-los em sua propriedade, e depois,
na calada da noite, impiedosamente, incendiar
o bambuzal, e assim tudo estaria acabado. E assim
ele fez.
Certa
noite quente de verão, levou com ele um
de seus homens de confiança para pôr
em prática seu malfadado plano. Quando
o pequeno agricultor tomou conhecimento do que
iriam fazer, defendeu-se:
-Patrão,
nunca negamos em lhe servir os bambus, por que
destruir o bambuzal, se ele também lhe
é para seu proveito? O fazendeiro rico
explodiu em uma barulhenta gargalhada, debochando
do pobre homem:
-Acaso
não aprendeste que sou o homem mais rico
desta província? Já apanhei bastante
bambu, o suficiente para usar por um bom tempo
até que as mudas que plantei nas margens
do rio estejam crescidas, para que eu possa delas
tirar proveito.
Então,
seguindo as ordens do fazendeiro, atearam fogo
ao bambuzal que ardeu em chamas e crepitava de
tal maneira que parecia gemer diante de tanta
maldade. As labaredas foram motivo de orgulho
para o rico fazendeiro que se retirou às
gargalhadas. Mas, a natureza também tem
suas artimanhas, pois ao sair o fazendeiro escorregou
em restos de bambus que estavam espalhados pelo
terreno e feriu-se com um pedaço deles.
No dia seguinte, amanheceu muito mal, mas falou
consigo mesmo:
-Vai
passar. Não precisarei gastar com médicos,
nem remédios, é coisa à toa...
Contudo, sua previsão falhou, porque foi
piorando cada vez mais. Até que, dias depois,
no meio da noite, não suportou o sofrimento
e resolveu pedir que o levassem ao hospital. Mas,
para seu infortúnio, naquela mesma noite,
chovia muito e os rios transbordaram causando
grandes enchentes, fazendo estourar as represas,
de tal maneira que ficaram ilhados, e tiveram
que esperar as águas baixarem, para levá-lo
ao hospital. Devida a essa demora, foi inevitável
amputar uma de suas pernas, e a doença
afetou os seus movimentos, impedindo-o de andar.
Voltou
para casa vociferando, em cadeira de rodas...
Passado certo tempo, agora já recuperado
da amputação, dirigiu-se até
à janela e passou a observar a paisagem
através da vidraça. Mesmo tendo
passado por tanto sofrimento, seu coração
continuava de pedra, e sentiu-se muito orgulhoso
ao ver mais adiante, o espaço vazio da
paisagem, cujo solo coberto de cinzas dava testemunho
da destruição ocorrida dias atrás.
Soltou uma gargalhada, bateu no peito e bradou:
-Ninguém
pega mais bambu neste lugar, agora só eu
os tenho em minha propriedade!
Um
dia mandou um de seus empregados verificar como
ia sua plantação de bambu. E para
sua grande decepção, a enchente
havia arrastado os bambus que cresciam. Então
indignado, soltou um grito e imediatamente foi
olhar pela janela, e não acreditando no
que seus olhos viam, conseguiu perceber um broto
de bambu que ressurgia do velho bambuzal, acariciado
por um vento suave.
Não
suportou a cena do cair da tarde. Deu um gemido
de dor, e morreu, consumido pela gangrena da carne,
e muito pior, pela gangrena da alma.
Para
meditação leia: Jó, cap.
20, vers. 15 a 26 I João, cap. 2, vers.
15 a 17.
Autor:
Pastor Eliezer S. Ávila
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