"Eu estava presa em um abismo de depressão e desespero, e quando ouvi que Deus poderia me dar uma vida nova por meio de Jesus Cristo, prostrei-me e entreguei toda a Ele"
Olhei para meu namorado através daquela fumaça produzida quimicamente. Éramos adolescentes rebeldes, havíamos deixado nossas casas e famílias para morar sozinhos. Arrogantes, ignoramos as regras de nossos pais através da maneira que nos vestíamos, usando drogas e saindo de casa para morarmos juntos em vez de nos casarmos.
Por isso me surpreendi e desacreditei ao ouvir a notícia de Jay: “O que você quer dizer? Sua mãe nos convidou para jantar?” Eu não acreditava, pois sabia que os pais de Jay eram “normais”, o tipo de gente que atravessava a rua se visse pessoas como nós na mesma calçada. Além disso, Jay havia dito que seus pais eram religiosos. Apesar disso, fomos convidados para jantar, e quando pensei que teria uma boa refeição, me convenci a ir.
Surpreendentemente, os pais de Jay nos receberam com carinho em sua casa. Sentamos para jantar e tive a dolorosa percepção de que minha aparência: acessórios, tatuagens e uma dúzia de piercings chocavam-se com a elegante decoração da mesa. Mas os pais de Jay nos trataram amigavelmente e com respeito, perguntando até se queríamos jogar após o jantar. Fiquei perplexa com tanta gentileza.
Louco amor
Nos meses seguintes, a mãe de Jay continuou a manter contato. Às vezes trazia uma sacola cheia de compras do supermercado, outras vezes escrevia cartas com versículos bíblicos dizendo que orava por nós. Líamos as cartas em voz alta para nossos amigos e ríamos muito. “Sua mãe deve ser louca!”, eu gargalhava. Mas a risada não mascarava o vazio que eu sentia dentro de mim, e nosso estilo de vida, de festas e drogas, só piorava.
Certa vez, após uma festa de uma semana usando drogas, Jay e eu nos demos conta da escuridão espiritual de nossas vidas. Estávamos muito assustados e ligamos para os pais de Jay, que imediatamente vieram à nossa casa com o pastor e alguns amigos. Apesar de esperarmos por críticas e desaprovação, essas “pessoas da igreja” simplesmente pularam o lixo no chão, olharam além dos quadros de caveiras e morte nas paredes (tínhamos até um morcego preto de papel pendurado no teto), colocaram de lado toda a parafernália das drogas e começaram a nos aconselhar e a orar por nós.
Fiquei profundamente tocada com seu amor e aceitação. Eu estava presa em um abismo de depressão e desespero, e quando ouvi que Deus poderia me dar uma vida nova por meio de Jesus Cristo, prostrei-me e entreguei toda a ele. Tão tocado quanto eu estava Jay, que orou também. Daquele momento em diante, sabíamos que nossas vidas precisavam mudar. Com uma nova percepção das coisas, sabíamos que não era certo morarmos juntos sem sermos casados. Jay me pediu em casamento naquele mesmo dia.
O ciclo completo
Depois de um casamento no estilo “hippie”, ao ar livre e ambos descalços, Jay e eu começamos a freqüentar a mesma igreja que meus sogros. Percebi o contraste entre nossos antigos amigos e o amor confiável de amigos da igreja. Aquele era o amor que eu queria receber e mostrar aos outros.
Comecei a freqüentar o grupo de mulheres da igreja, mas como era a única adolescente casada, me senti deslocada e não conseguia me identificar com as outras mulheres. Não conseguia entender o porquê de tanta animação em passar horas com um tubo de cola nas mãos fazendo arranjos de flores secas. Mesmo assim elas não desistiram de mim. Recebi convites para estudos bíblicos semanais e para passeios no parque. Quase todos os dias, Jay e eu éramos presenteados com alguma forma de amor e aceitação dos membros da igreja. Quando passamos por dificuldades financeiras, encontramos cheques anônimos na caixa do correio ou sacolas de comida na porta de casa. Uma vez recebemos um novo jogo de roupas de cama, que apareceu misteriosamente na varanda de casa.
Líamos nossas Bíblias e freqüentávamos os estudos bíblicos. Conforme meu relacionamento com Deus se aprofundava, comecei a ter oportunidades de dividir o amor de Deus com crianças que sofriam dos mesmos problemas que eu havia sofrido. Jay e eu nos tornamos voluntários no ministério de jovens, trabalhando com adolescentes que moram nas ruas. Conversar com estas crianças perdidas, vestindo roupas sujas, me lembra de como em um momento de necessidade em minha vida, o genuíno amor cristão olhou para mim além das aparências e enxergou um coração que precisava de Cristo. Isso me motiva e me determina a demonstrar este mesmo amor incondicional aos outros.
Hoje, se um morador de rua visita nossa igreja ou se alguém aparece na porta com cabelo pintado de roxo e piercing no nariz, eu logo me apresento dizendo: “Oi! Sou Michelle!” E então digo que estou feliz por conhecê-los e os convido para uma atividade na igreja ou para uma conversa. Quando não estou ocupada com as atividades da igreja? Cuido de meu marido e dos meus filhos. Bem, e algumas vezes, até passo horas com uma pistola de cola quente nas mãos para fazer arranjos de flores secas.
Karen Strand já publicou diversos artigos na Today’s Christian Woman. Hoje escreve artigos na área de saúde, para a Hope For Women.