Condenação de pastor pode significar piora para cristãos uzbeques.
o pastor foi acusado de operar uma organização religiosa ilegal, de incitar ódio religioso e de distribuir material que promove extremismo religioso.
Nessa semana, as autoridades religiosas do Uzbequistão admitiram publicamente pela primeira vez que prenderam um pastor uzbeque no mês passado, na cidade de Andijan. Ele está sendo processado por acusações criminosas.
“Dmitry Shestakov, que se afirma pastor e dirige uma organização religiosa ilegal que opera na região de Andijan, foi preso”, informou a agência de notícias do Comitê de Assuntos Religiosos no dia 12 de fevereiro.
A agência de notícias negou que Dmitry fosse um pastor evangélico ligado à Igreja do Evangelho Pleno, uma denominação registrada. Ela afirmou que Dmitry não era líder de nenhuma organização religiosa registrada no Uzbequistão. Em vez disso, essa agência do governo disse que o pastor era um “impostor”, dirigindo um grupo clandestino chamado de “pentecostais carismáticos” engajados em “atividades missionárias e evangelísticas sob a liderança de Dmitry”.
Mas, um documento da igreja apresentado pelo advogado de Dmitry no dia 12 de fevereiro prova que o pastor tinha autorização para conduzir cultos na Igreja do Evangelho Pleno desde 5 de outubro de 2004.
Dmitry, de 37 anos, foi preso em um ataque à sua congregação em Andijan durante um culto em 21 de janeiro. Ele não pôde se comunicar pelas duas semanas seguintes, nem com seu advogado, sua famílias ou com os membros de sua igreja.
Uma acusação formal foi feita pela promotoria de Andijan em 30 de janeiro. Nela, o pastor foi acusado de operar uma organização religiosa ilegal, de incitar ódio religioso e de distribuir material que promove extremismo religioso. Se for condenado por essas acusações, ele pode ser sentenciado a até 10 anos de prisão por cada crime.
A denúncia contra Dmitry e os outros chamados de “pentecostais carismáticos” foi apresentada por um investigador da promotoria de Andijan. Ela associa a igreja a grupos extremistas islâmicos como Hizb ut-Takhrir, Akramia e Tovba.
A incriminação identificou o grupo de Dmitry e esses grupos islâmicos como “organizações religiosas-políticas extremistas que, sob o pretexto de se dirigir às necessidades religiosas, aspiram tomar o poder”. Ela também acusou todos os grupos religiosos de causar divisões, o que faz deles uma “ameaça à segurança nacional”.
Foi apenas em 3 de fevereiro que Dmitry pôde ler as acusações feitas contra ele. As autoridades regionais se recusaram a confirmar uma data para o seu julgamento.
Em 6 de fevereiro, elas também tentaram impor ao pastor um advogado apontado pelo Estado. Mas, no mesmo dia, o próprio advogado de Dmitry chegou para tomar o caso na promotoria, assim que os guardas da prisão escoltavam o pastor para dentro do prédio.
“Foi uma resposta às nossas orações”, disse um membro da congregação. “Toda nossa igreja jejuava e orava para que o advogado dele chegasse”. Pessoas que puderam levar a Dmitry alimentos e outros itens de necessidade na semana passada relataram que ele parecia estar confiante, apesar de alguns problemas de saúde. Segundo a agência de notícias Forum 18, ele está preso em uma solitária.
Reação à conversão de uzbeques
Segundo um relato do jornal russo Pravda, feito em 14 de fevereiro, Dmitry está sendo acusado de “converter muçulmanos ao cristianismo”.
Ele já havia sido vítima de opressão por parte da promotoria de Andijan em junho de 2006, quando a polícia secreta invadiu sua casa e sua igreja, detendo-o temporariamente e confiscando fitas de áudio, vídeo e livros.
Essa medida pareceu ser uma reação à conversão de uzbeques ao cristianismo através do ministério de Dmitry. Sua congregação de 100 membros em Andijan realiza cultos no idioma russo e uzbeque. Nesses cultos, segundo sua esposa Marina, famílias inteiras se tornaram cristãs, pessoas foram curadas de epilepsia e diversos grupos domésticos foram formados.
Para evitar ser preso, Dmitry fugiu de Andijan no inverno passado, acompanhado de sua esposa e seus três filhos, depois de saber que haviam feito sérias acusações contra ele. Depois de alguns meses ele voltou, e no fim de novembro ele retomou abertamente suas atividades na igreja.
“Achávamos que as coisas haviam se acalmado”, sua esposa disse. “Se eles queriam achar Dmitry, era fácil. Mas não aconteceu nada. Organizamos reuniões no Natal, e fizemos um grande culto com orações na véspera de Ano Novo. Então achamos que não havia problema, e que ele não era mais procurado.”
Mas, depois de duas horas preso, Dmitry soube que ele ainda estava na lista dos “procurados”. A polícia lhe leu uma ordem de prisão que havia sido emitida contra ele no fim de junho, declarando: “Agora achamos você, e agora estamos prendendo você”.
"‘Evangelismo ilegal"
A declaração do governo, emitida há três dias, descreveu o pastor como um “ex-viciado em drogas” envolvido em “evangelismo ilegal”.
“Ele era mesmo um viciado em drogas”, Marina reconheceu. “Ele ficou na prisão diversas vezes, e era um homem terrível e horroroso.”
Mas isso foi antes do “dia da salvação de Dmitry”, ela acentuou. Desde aquele dia, há mais de 15 anos, ela disse que a vida de seu marido tem sido transformada por sua fé em Cristo.
“Em toda a nossa vida cristã Deus tem nos guiado. Acreditamos que Deus tem um plano para nós.” Mas, Marina admitiu que ela teve muito medo nos primeiros três dias da prisão de seu marido, enquanto ela tentava acalmar seus filhos - e ela própria.
“Senti medo, não por mim nem pelas crianças, mas pelo meu marido. Talvez eles tivessem começado a torturá-lo, a agredi-lo, a usar a máscara de gás nele. Sabemos de muitas histórias em que as pessoas desaparecem para sempre. A polícia no Uzbequistão pode inventar muitas acusações contra você, ou criar indícios de que você esteja envolvido com drogas.”
Mas, segundo ela, na semana depois de sua prisão a igreja se mobilizou. “As pessoas me encorajavam todos os dias. Alguns me deram dinheiro ou comida. Eles me sustentaram.”
Embora ela tenha implorado ao chefe da promotoria para poder ver seu marido, ele lhe falou: “Dmitry era procurado, então o procuramos e o pegamos. Ele é um criminoso perigoso. Proibimos você de visitá-lo”.
As autoridades uzbeques têm reprimido todas as atividades religiosas em Andijan desde a rebelião em maio de 2005, na qual centenas de manifestantes foram mortos pelas tropas do governo.
Depois que o Departamento de Estado dos EUA colocou o Uzbequistão em sua “lista negra” de liberdade religiosa em novembro passado, designando-o como um País de Preocupação Específica, o Ministério uzbeque de Relações Exteriores declarou estar “perplexo” com tal classificação “sem fundamento”.
O ministro afirmou que “nos últimos anos, não foi observado nenhum único fato de concorrência inter-religiosa, ou de situações de conflito entre religiões ou entre religiões e o governo”.