Igrejas evangélicas crescem no Iraque

Oficialmente, somente duas igrejas evangélicas - incluindo as presbiterianas lideradas por egípcios - existiam na capital durante o regime ditatorial de Saddam.

Em meio a notícias sobre bombas, seqüestros e crise política no Iraque, existe um quadro mais positivo para as igrejas evangélicas.

No nordeste do país, a região curda proporciona um paraíso para as atividades cristãs na medida em que os dois governos curdos rivais passam a ficar mais tolerantes em relação aos muçulmanos que se tornam cristãos. No sul, a igreja evangélica está crescendo rapidamente.

Em Bagdá, cerca de quinze congregações evangélicas tiveram início desde a queda do regime de Saddam Hussein em abril do ano de 2003. Oficialmente, somente duas igrejas evangélicas – incluindo as presbiterianas lideradas por egípcios – existiam na capital durante o regime ditatorial de Saddam. Mas agora existem batistas, metodistas e a Aliança Cristã Missionária, todas lideradas por pastores iraquianos.

“As pessoas estão abertas como nunca se viu”, disse Ghassan Thomas, pastor da Aliança Missionária Cristã em Bagdá. “É porque não temos paz. É assim que associamos nossa mensagem à nação: eu prego ‘como é possível obter paz? e todo mundo fica atento, especialmente quando eu converso sobre uma paz maior que vem de Cristo Jesus”.

A maioria dos membros das novas igrejas vem da Igreja Presbiteriana, e alguns de denominações tais como Católica ou a Ortodoxa Síria, que está no Iraque há séculos.

“Os muçulmanos também querem a paz”, disse Thomas. “Muitos deles estão assustados. Quando os reféns são mortos, freqüentemente um verso do Corão é usado como justificativa. Assim, muitos muçulmanos ficam assustados com Alá. É um alívio enorme para eles quando pregamos que Deus é amor”.

O sul do Iraque é extremamente perigoso para os cristãos estrangeiros, o que faz com que muitos deles se desloquem para a região do Curdistão. Mais de quatro milhões de curdos moram nas regiões montanhosas do norte, que desfruta de autonomia desde a Guerra do Golfo, em janeiro de 1991. Duas facções políticas controlam a área. Arbil é a principal cidade do Partido Democrata Curdo de Massoud Barzani, e Sulemaniya é o centro do poder do recém-eleito presidente Jalal Talabani.

Em ambas as regiões, os refugiados do Curdistão estão voltando. Existe um baixo índice de violência urbana, e as autoridades têm coibido de forma severa as atividades de extremistas muçulmanos. Isso tem gerado prosperidade para essa região, e muitos acreditam que isso se deve o fato de as respectivas administrações terem melhorado o setor de defesa da liberdade religiosa.

De acordo com Yousif Matty, líder e pastor da Igreja Evangélica Curda, uma denominação no norte que compreende igrejas árabes e curdas, “os últimos dez anos têm sido uma época áurea, devendo continuar assim com o Talabani se tornando presidente. Ele tem sido bem enfático quanto no cumprimento à lei. Além disso, os curdos também sofrem nas mãos de islâmicos”.

A igreja de Matty possui pouco mais de cem membros, tanto de cristãos como de ex-muçulmanos. Ele administra quatro livrarias, duas escolas e outros projetos, tendo recebido um lote de terreno no valor de $ 500.00,00 do governo para construir uma igreja. O governo também tem recebido outras ongs cristãs.

A outra denominação evangélica no norte é a Igreja Evangélica de Idioma Curdo que é exclusiva para os curdos.

“Existe sempre uma perseguição da família quando um muçulmano se torna cristão”, disse o pastor curdo de uma comunidade. “Isso não irá mudar a curto prazo, mas antigamente, o ex-muçulmano também sofria perseguição do estado”.

Influência curda

A influência dos curdos, que representam 25% da população iraquiana, é importante para o futuro do país. O presidente Talabani tem menos poder do que o primeiro ministro Shiite, mas alguns líderes cristãos crêem que a melhor defesa contra uma constituição islâmica pode ser a influência dos curdos.

Embora sunita, o povo curdo é um dos grupos menos religiosos no Oriente Médio. Eles se opõem aos árabes, por quem são humilhados há décadas. O bispo Issac de Dohuk previu que os curdos impediriam que a constituição desse muita ênfase ao islamismo.

“A sharia é bem árabe, e os curdos irão resistir a todas as tentativas de tornar a cultura iraquiana cada vez mais árabe”, disse Issac. “Se formos pelo caminho da sharia, será como no Irã, onde nossa igreja representava menos de 10% de sua força antes da era Khomeini”.

Outro fator importante para a igreja do Iraque é que muitos dos 40 mil cristãos que fugiram depois dos atentados em agosto do ano passado estão voltando.

De acordo com Issac, “não é o fim do mundo que tantos cristãos tenham fugido, pois isso fez com que a igreja se espalhasse pelo país, e as novas comunidades que acabaram estabelecendo nas Américas e na Austrália estão providenciando vários recursos que não teríamos recebido se tivéssemos permanecido no Curdistão”.

Mas, nem tudo é positivo, obviamente. O Iraque permanece um país em crise. Em uma conferência recente para setenta pastores iraquianos, todos eles tiveram que viajar cedo para evitar problemas nas estradas. E, embora eles tenham enfatizado que as ruas aos poucos estão se tornando mais seguras desde o começo do ano, as reuniões das igrejas são feitas no meio da madrugada com as portas trancadas.

As leis e a ordem ainda não foram restabelecidas apropriadamente, nem mesmo os serviços básicos. A paciência está se esgotando com o fracasso das forças americanas e britânicas em restaurar e estabilidade depois de dois anos no país. Um pastor disse: “Nenhuma população irá agüentar um exército que não pode se proteger – a boa vontade já se foi”. Cristãos da classe média também estão emigrando em números alarmantes, já que os que exercem profissões importantes tais como medicina, são alvos de seqüestro e extorsão. Algumas igrejas evangélicas mais novas têm sido dizimadas por esse êxodo.

Problemas

As igrejas no Iraque também enfrentam desafios internos. Alguns padres das igrejas históricas têm especulado os novos evangélicos. Em Bagdá, um padre disse aos que tinham deixado sua igreja para comparecer aos cultos dos batistas: “Não iremos enterrar seus parentes que freqüentam nossas igrejas”. Alguns líderes de denominações mais antigas têm difamado as congregações evangélicas, afirmando que são “parte da conspiração para controlar o Iraque”.

Além disso, embora os evangélicos sejam treinados para evangelizar, a igreja é jovem e imatura. Matty adverte: “Nosso evangelismo é muito mais forte do que a função disciplinadora da igreja. Nós temos evangelismo através de rádio, escolas, livrarias, mas a igreja em si não se concentra em aprofundamento, nem seus líderes estão bem preparados”.

Alguns líderes de igreja vêem divisão em várias denominações como indícios de desunião. E nem toda a ajuda missionária é bem gasta. Alguns pastores têm utilizado o apoio internacional para comprar carros caros e melhorar o estilo de vida, deixando outros pastores com inveja.

“A igreja evangélica irá se fortalecer, mas muitos de seus membros irão deixá-la. Entretanto isso não é tão ruim. Eles provavelmente voltarão com mais ensino e maturidade e irão beneficiar a igreja em longo prazo. As igrejas históricas ficarão ainda mais com uma imagem negativa. Eu as vejo como a principal perseguidora dos evangélicos no futuro. Estou traduzindo um livro chamado ‘O julgamento de sangue’, que calcula que as igrejas institucionais mataram cinqüenta milhões de cristãos entre os anos de 315 e 1570. Os extremistas islâmicos serão moderados, embora isso possa levar uma geração”.

Mesmo quando os conflitos estão em evidência, há sinais de esperança. O pastor Thomas relata um incidente que ocorreu quando ele recebeu ameaças de morte por escrito num papelão depois de colocar uma placa fora em sua igreja que dizia, “Jesus é a Luz do mundo”. A ameaça, assinada pelo Partido Xiita, dizia: “Jesus não é a Luz do mundo, Alá é, e você foi alertado disso”.

Thomas encheu uma van com presentes de criança de uma agência de ajuda infantil, junto com algumas Bíblias e remédios, e dirigiu-se à sede do Partido Xiita. Ele exigiu a presença do principal sheik para entregar os presentes à ele.

Ele foi levado ao líder, e se apresentou como pastor.

“Nós o respeitamos”, disse o Sheik.

Thomas disse: “Os cristãos têm amor por você, pois Deus é amor, nosso Deus é Deus de amor”.

Novamente o sheik disse: “Nós respeitamos o seu Deus. Nós respeitamos Jesus”.

Essa foi a abertura pela qual Thomas estava orando. Ele disse: “Se você respeita Jesus, você permite que eu leia sua Palavra?” Ele pegou a Bíblia e leu o evangelho de João: “Eu sou a luz do mundo”. Depois entregou o papelão com a ameaça de morte.

Thomas concluiu: “Ninguém está esperando uma situação que melhore de maneira rápida, mas cremos que Deus está agindo, e que o futuro será de mais paz, especialmente caso os cristãos se tornem amistosos e convivam com os muçulmanos pacificamente”.

- Misão Portas Abertas | 2005-09-18 11:25:06





Opinião

O evangelho não é uma doutrina de língua, mas de vida. [João Calvino]