Durante mais de mil anos os Casaques pastorearam rebanhos de ovelhas, cavalos camelos e bovinos pelas vastas estepes da Ásia Central, do mar Cáspio à China. Dois séculos de dominação russa mudaram tudo.
Em busca de uma identidade.
O comunismo e a catástrofe ecológica juntaram-se ao Islã, influenciando os Casaques.
Janderbek, um jovem casaque, parecia voar na pastagem, galopando velozmente seu cavalo. A emoção corria em suas veias, enquanto a música do seu povo, exaltando o passado heróico, jorrava de um cassete preso à sela. Janderbek era um descendente dos lendários cavaleiros das hordas mongóis de Gengis Khan, que conquistaram a Ásia Central no século treze, mesclando-se aos turcos ancestrais, formando o que hoje é o Casaquistão. Por instantes o jovem imaginou-se como um belo herói das lendas do seu povo. Em sua imaginação estava armado para a caça e para prevenir-se do inimigo que tentava roubar o precioso rebanho do seu clã. De repente, Janderbek foi obrigado a freiar o cavalo, diante de uma cerca. Clara advertência de que a vida nômade havia sido substituída pelas fazendas coletivas altamente mecanizadas, onde se cultivavam grãos em vez de criar rebanhos. Janderbek, que passava férias de verão em seu país, era semelhante a muitos de seus companheiros que agora viviam em apartamentos e trabalhavam em fábricas. Outros casaques também foram preparados para viver numa sociedade moderna e industrializada. Como seus pares, Janderbek busca um sentido para o passado glorioso, tentando uma compensação para os dias confusos de sua existência atual.
De nômade a comunista
Durante mais de mil anos seus ancestrais pastorearam rebanhos de ovelhas, cavalos camelos e bovinos pelas vastas estepes da Ásia Central, do mar Cáspio à China. Dois séculos de dominação russa mudaram tudo. À medida que a Rússia avançava para garantir rotas comerciais seguras, fazendas e exploração das riquezas naturais, os casaques se tornaram minoria dentro de seu próprio território. Com a coletivização obrigatória, metade da população casaque foi simplesmente dizimada pelos comunistas.
Forçados a abandonar a vida nômade, os casaques passaram à industria. Tais mudanças tiveram custo muito alto para o povo e a terra. Os rios que corriam para o mar de Aral, que já foi o quarto maior mar interior do mundo, foram desviados para irrigação das culturas de algodão. O resultado foi a destruição da pesca. Produtos químicos letais, depositaram-se no fundo do mar, e poluíram o ar das vilas próximas. Outras áreas sofreram intensa contaminação, resultante dos testes nucleares. O Casaquistão, declarado independente em 1991, herdou estes e muitos outros problemas.
A crise econômica
A hospitalidade dos casaques é proverbial. Não obstante, condições econômicas adversas os obrigou a abandonar algumas de suas mais caras tradições. Um provérbio casaque diz que "quanto mais hóspedes se tem, maior riqueza também".
Tendo desfrutado do status de super potência, hoje os casaques passam pela humilhante situação de pobreza na transição para a economia de mercado. A máfia transferiu-se para lá, sufocando e dominando o comércio. Muitos são obrigados a vender preciosos bens de família para comprar alimentos. Alguns se lamentam dizendo que "No tempo do comunismo era melhor. Ao menos tínhamos pão, casa e respeito do mundo. Hoje não somos ninguém".
Necessidades básicas
Uma mulher chamada Sholpan sentiu fortes dores de estômago e teve que subornar um médico para obter uma consulta, com dinheiro emprestado de parentes. O médico lhe disse que ela teria de se submeter a uma cirurgia, e entregou-lhe uma lista de material para a operação. Todos os dias ela e seus parentes percorriam os bazares da cidade, procurando o material, inclusive anestésicos e esparadrapo. Se conseguisse tudo, voltaria ao médico, com outra propina. Isto ilustra a total falta de itens básicos, tais como roupas e assistência médica.
O ressurgimento da religião
Embora sendo historicamente muçulmano, o comunismo destruiu não somente a identidade casaque, como também sua espiritualidade. Nas cidades, muitos ainda se dizem ateus e declaram só confiar em si próprios, pois tudo o mais falhou. Apesar disto, em todo o Casaquistão o interesse pelas coisas espirituais está em alta. Nas mesquitas, construídas com dinheiro saudita, os líderes muçulmanos locais dizem que para ser casaque é preciso ser muçulmano. Nas vilas, o folclore islâmico e seus curandeiros prendem a atenção do povo. Por toda parte proliferam as seitas, com suas filosofias, tentando preencher o profundo vácuo espiritual dos casaques.
A maior parte dos obreiros cristãos se concentra na capital, Alma-Ata. Embora seja pequeno o número de cristãos, existe grande interesse no evangelho. Apenas porções da Bíblia estão traduzidas. Lamentavelmente o cristianismo é visto como a religião estrangeira dos russos. De qualquer maneira, os casaques estão em busca de uma identidade.
Dados Estatísticos
Alfabetização: Cerca de 99% alfabetizados.
Alimentação: Carne (de cavalo, frangos, bovina e de carneiro), queijos, leite de ovelhas e de égua fermentada, uma preferência nacional. Arroz e pão, uvas, melões, berinjela, tomate e outras frutas e legumes.
Artes: Poesia e narrativa de histórias.
Idioma: Casaque e russo.
População: 8.138.000 só Casaquistão. Incluindo os casaques que vivem em outros países alcançam entre 10 a 12 milhões no total.
Religião: Mistura de Islamismo Sunita e folclórico nas áreas rurais. Nas cidades há uma tendência para a astrologia e espiritismo. Existem muitos ateus, devido à influência do comunismo.
Saúde: 37 médicos para cada 10.000 pessoas. Muitos problemas resultantes de poluição e radiação.