Yasser Hamid, 36 anos é um ativista político e um estudioso de religião comparativa, que veio de uma família muçulmana. Ele se converteu ao cristianismo e tem sofrido sérios atentados contra sua vida.
PAQUISTÃO - Yasser Hamid, 36 anos é um ativista político e um estudioso de religião comparativa, que veio de uma família muçulmana. Ele se converteu ao cristianismo e tem sofrido sérios atentados contra sua vida.
Desde antes de sua conversão, Yasser está envolvido em problemas judiciais, que começaram em 1993. As acusações contra ele são sempre de blasfêmia.
A pior acusação foi feita em dezembro de 2002, quando maulvis extremistas (professores muçulmanos) o acusaram de publicar um panfleto mostrando Maomé, o profeta do islamismo, em posições indecentes.
Yasser ficou detido por quase seis meses, de dezembro de 2002 a maio de 2003. Ele disse ter sido torturado por duas semanas, e não recebeu comida durante um mês. Ele também ficou preso na solitária.
Réu assassinado
“Depois de uma semana sem voltar para casa, começamos a ficar preocupados”, disse a esposa de Yasser, cujo nome não foi publicado por motivos de segurança. “A polícia quis um suborno antes de nos dar qualquer informação, e nenhum advogado era capaz de nos ajudar.”
Frustrada, a esposa de Yasser e sua mãe foram a uma igreja católica para orar. As mulheres, que então ainda eram muçulmanas, sentiram que suas orações haviam sido respondidas quando, no dia seguinte, receberam uma ligação de um homem que dizia saber o paradeiro de Yasser.
A esposa de Yasser disse que, através do homem que servia chá na delegacia, seu marido conseguiu entrar em contato com ela, e lhe disse que estava preso na delegacia de Koth Walee.
Mushtaq Zafar, colega político de Yasser, foi preso com ele em 2002. Ele foi solto sob fiança em fevereiro de 2003. A caminho de casa, saindo do tribunal, Mushtaq foi atacado de emboscada na estrada e foi morto por “assaltantes desconhecidos”, segundo relatou o jornal “Dawn,” em 7 de fevereiro de 2003.
Yasser disse que dois homens foram acusados de assassinato mais tarde, mas acabaram sendo soltos depois.
Com a liberdade de Yasser em 2003, ele voltou à igreja católica com sua sogra para agradecer pela oração respondida.
Yasser pediu ajuda ao padre. Embora ele tenha sido inocentado das acusações de blasfêmia, o assassinato de Mushtaq indicava que sua vida ainda corria perigo.
O padre indicou para ele outro cristão, que deu a Yasser e sua família um lugar para se esconderem por mais de um ano, arrumando escola para os filhos de Yasser e lhes falando de Cristo.
Yasser estudou literatura cristã, deu palestras sobre o cristianismo e se encontrou com cristãos, mas ele estava mais associado aos muçulmanos dissidentes das organizações às quais pertencia. No dia 28 de novembro de 2004, esse cético muçulmano intelectual foi batizado, com sua esposa, seu filho, sua filha e mais dois parentes.
"A religião verdadeira"
A curiosidade de Yasser sobre a fé vem do contexto religioso de sua família. Sua mãe era uma estudiosa islâmica, e outros membros de sua família eram clérigos.
Quando tinha 11 anos, ele ganhou livros cristãos de um caminhão de livros. Yasser explicou que, para os muçulmanos, era pecado ler livros não-muçulmanos. Um medo se instalou nele, e ele se sentia mal toda vez que ia ler um livro cristão.
Depois de se formar em direito na Universidade de Punjab, em Lahore, Yasser abriu seu próprio escritório e começou o Instituto de Pesquisa Religiosa no Paquistão.
O instituto atraiu jovens muçulmanos indagadores e rebeldes, pois, apesar de ser islâmico, as pessoas consideravam o instituto um grupo dissidente. Yasser escreveu livros que questionavam a validade do islamismo. Ele fazia estudos comparativos entre islamismo e cristianismo.
Yasser se lembra: “Estávamos procurando a verdade. Então decidimos pesquisar as religiões e aceitar a religião verdadeira”.
O grupo também se envolveu com política, ganhando as eleições do conselho local e derrotando conservadores islâmicos em Baghbanpura, Lahore.
Mas, à medida que a fama deles crescia, a oposição contra eles crescia também.
Além das acusações de blasfêmia, havia procissões contra eles. Primeiro era só em Lahore, mas depois se espalhou por todo o Paquistão. Os muçulmanos atiravam bombas de gasolina em suas casas e mataram vários deles. Yasser foi baleado seis vezes.
Extremistas assassinaram seu irmão mais novo – que havia se tornado cristão – em março de 1998.
Mais duas pessoas morreram em 2001, em um incêndio causado por membros de um partido político rival. Eles atacaram o escritório de Malik Sajid, um membro do grupo de Yasser. Segundo Yasser, os invasores atiraram uma granada de mão dentro do escritório, que estava cheio. O fogo se espalhou e feriu 12 pessoas.
Dois homens presos pelo ataque justificaram sua ação ao dizer que o grupo de Malik havia cometido blasfêmia.
Esperança de asilo
Apesar de se esconder, depois da prisão de 2003, Yasser continuou a lutar contra os clérigos, que o haviam acusado.
Em outubro de 2003, Yasser abriu dois casos contra os clérigos muçulmanos, os quais ele acreditava estarem por trás dos ataques contra ele e seus colegas. Ele acusou os membros do Jamiat Islami (Universidade Islâmica), e de grupos extremistas ilegais, por realizarem “atos maliciosos ou deliberados”, com o fim de insultar “crenças religiosas”.
Pelo menos 20 clérigos foram detidos, mas Yasser disse à agência de notícias Compass que nenhum deles ficou preso.
No dia 20 de dezembro de 2004, um dos principais oponentes de Yasser, Dr. Imtiaz Ghazi, foi assassinado em sua clínica. O irmão de Imtiaz acusou Yasser e outros três pelo crime – e por blasfêmia.
Em um artigo publicado no dia seguinte, o jornal “Daily Paquistan” afirmou que Yasser e um cúmplice haviam matado Imtiaz. Yasser se escondeu, mas uma invasão policial na casa de um amigo seu, em outubro de 2005, o convenceu de que seria mais seguro para todos se ele deixasse o país.
Desde sua partida para a Europa, a família de Yasser teve que se esconder, ocultando suas identidades. Em maio, a cunhada de Yasser e sua sogra estavam em uma feira quando policiais envolvidos no caso dele as encontraram.
A cunhada conta: “Ouvimos um policial dizendo aos seus colegas: ‘Olha, a cunhada de Yasser! Se a pegarmos, vamos fazer com que ela nos conte onde ele está!’. Os policiais me conheciam da delegacia, aonde eu fui uma vez para tentar libertar Yasser com o pagamento de uma fiança”.
As duas mulheres escaparam dos policiais pelas ruas cheias do mercado, e se esconderam em uma igreja.
O filho de Yasser está freqüentado um internato cristão, onde só alguns funcionários sabem que ele é um ex-muçulmano. Na última escola em que esteve, alunos muçulmanos descobriram que ele havia se convertido ao cristianismo e começaram a perturbá-lo, chamando-o de “infiel”.
Vivendo agora na Holanda, Yasser espera que sua esposa, seu filho de 14 anos e sua filha de 5 anos, possam se juntar a ele. O paquistanês vive na cidade de Arnhem, perto da fronteira com a Alemanha, e aguarda a decisão das autoridades holandesas sobre seu pedido de asilo.